"Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, a raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu." (Alberto Caeiro)
Acho que deveria descobrir onde fica essa nascente de água raz que despinta a pintura da minha pureza. Eu olho pra meses atrás e vejo tudo que eu queria ser no hoje que acaba. Toda minha bondeza se desgasta porque de algum lugar entre a mente e o coração, um desejo insano e inconseqüente de celebrar o opróbrio das minhas ações, exala sem sacrifício.
Olho minha despintura e não acredito que tenha valhido me banhar na saliva alheia, no suor do outro. Uma tinta escura embaça minhas vistas enquanto oferece guloseimas tentadoras aos outros sentidos; mas não posso ver que por de trás disso tudo, um banho de solvente me aguarda.
Tenho necessidade de água límpida, de banho de tinta; aquele que me faz sentir bem com quem sou e não com a manipulação exercida por meu mero corpo.
O resíduo que pinga de mim perdura uníssono em meus ouvidos gerando monotonia, enquanto os resquícios que ainda me restam de cor e beleza entoam singulares timbres que magificam o universo implorando por mais uma mão; mão de tinta, mão de ajuda, um toque em minha mão, que me jogue na inslolubilidade, me tirando do desgaste causado por todo tipo de chuva- ácida- solvente que não solve meus desatinos e inseguranças.
Deveria descobrir o afluente de tanto infortúnio que me rega por todos os lados transformando-me naquilo que não desejo ser; despintado porque todo mundo é!
Raiely Arruda de Souza (12-10-11)
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
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